quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Técnico explica como começou sua história com Sarah Menezes.

28/01/2010
Teresina - PI

Técnico fala sobre planos para estado e história com melhor atleta de 2009.
Expedito cercado por alunos de seu instituto


A conversa com Expedito Falcão corre fácil. Conhecido por revelar a judoca Sarah Menezes, melhor atleta brasileira de 2009 e bicampeão mundial júnior, o treinador fala sobre esporte, política e música com a mesma desenvoltura que apresenta sobre os tatames. Foi assim, na base da boa lábia, que ele conseguiu apoio e estrutura para que sua pupila se tornasse a maior atleta do Piauí. Agora, Expedito tenta fazer do estado uma referência dentro do judô nacional.

Fundador de um instituto com o seu nome, o técnico concilia os treinos com lobby em busca de estrutura para o esporte no Piauí. Já conseguiu a promessa de um ginásio para a capital, Teresina, mas também busca, com o governo estadual, outros projetos mais amplos. Durante passagem por Teresina para acompanhar a rotina de Sarah, o GLOBOESPORTE.COM teve longa conversa com o técnico, que falou sobre planos, opiniões e, lógico, sobre a pupila.

- Como começou sua história com a Sarah Menezes?

Começou em 1999. Ela treinava na academia de uma escola e acabou migrando para a minha academia. Meu amigo teve de fechar, e uma leva de alunos foi treinar comigo. Ela ia mais para brincar, mas já no primeiro ano já foi campeã brasileira. Desde essa época, já mostrava ter talento. Garotos de 14 anos que não faziam alguns golpes direitos, ela ia e ensinava.

- E por que treinar com meninos?

Ela teve sorte de treinar com uma geração de meninos muito fortes aqui. E isso estimula. Falava para os meninos baterem mesmo. Ela encarava como provocação, e por isso eu forçava. Ela sobressaia pela técnica, não pela força. Mesmo nova, ela tinha uma boa variação de golpes.

- Quando você percebeu que a Sarah tinha futuro no judô, qual foi a maior dificuldade para dar a base para que ela pudesse evoluir?

Acho que a maior dificuldade era o apoio em casa. Às vezes, ela tinha que ir escondida para o treino. Mas com o tempo, a própria família foi mudando de ideia. Ela era muito danada, e isso mudou com o judô. A energia que ela usava para bater nos meninos, para correr, pular o muro, nós soubemos transferir para o tatame.

- E a questão de custos, da falta de patrocínio?

Na primeira vez que ela se classificou para o Campeonato Pan-Americano, em La Paz, tirei dinheiro do meu bolso para ela poder viajar. Mas eu já tinha visto que eu logo iria ter esse retorno. Ela já mostrava que era bem acima da média, que valia o investimento. Eu também conversei muito com o Ney Wilson (coordenador técnico da Confederação Brasileira de Judô). Desde o começo ele acreditou muito nela, dizia que era um diamante a ser lapidado. Então, as coisas foram se acertando.

- Qual foi a derrota mais marcante da Sarah?

A derrota foi no Campeonato Sênior, em Teresina. Ela, ao lado da Taciana (Rezende) e da Daniela (Polzin), era a favorita para ficar com o ouro, ainda mais em casa. Mas ela perdeu por ipon nas quartas de final para uma judoca pouco conhecida. Foi onde eu fiquei com mais raiva dela. Não por ter perdido, mas por não ter seguido a minha orientação. Acho que foi a pior derrota de todas. Nas Olimpíadas, também foi complicado, mas é diferente, lá é mais igual, mais acirrado. Aqui, não. Mas foi na hora certa.

- E a vitória?

Foi na primeira vez que ela foi campeã mundial júnior. Eu estava aqui, tentando acompanhar pela internet. Uma hora eu cansei e fui dormir. Um repórter me acordou, dizendo que ela estava nas quartas. Aí, a assessora da CBJ começou a falar comigo pelo MSN, me passando os detalhes. No dia seguinte, meu amigo me ligou de novo, dizendo que ela havia vencido. Eu estava dirigindo, quase bati com o carro (risos).

- A Sarah diz ser uma pessoa muito obstinada. Sempre foi assim?

Uma vez, ela viajou com a seleção brasileira para o Mundial do Cairo, em 2005. Lá, o João Derly e Luciano Correia foram campeões. Eu mandei uma mensagem para ela, perguntando se ela acreditava que um dia iria representar o país como eles fizeram. Ela respondeu assim: (Nota: neste momento, Expedito mostra o celular com a mensagem de Sarah) “Acredito, lógico que acredito. Um dia estarei lá, representando nós e o Brasil”. É uma prova de que ela sempre acreditou. E ela mostrou que tinha um fundo de verdade.

- A Sarah se tornou o maior ídolo da história do judô no Piauí. Até 2016 novos nomes podem surgir no estado para representar o Brasil nos jogos do Rio?

É difícil. Não se pode descartar, mas é difícil. Mesmo em nível de resultados, é complicado. Seria muito imediatismo. Seis anos no judô de alto rendimento não é tanta coisa. Tem a adaptação, o processo de crescimento. Mas sei que temos condição de colocar mais gente na seleção. Temos muita gente talentosa, mas do quilate da Sarah é difícil, não surge de uma hora para a outra.

- Qual é o seu objetivo para 2010?

Colocar uma outra atleta na seleção. Acho que a de maior potencial é a Hayssa Santos, que disputa na categoria de até 70kg. Ela tem muito potencial. Esse é o meu principal objetivo agora.

- Você também tem planos para fazer do Piauí uma referência para o judô nacional. O estado, no entanto, ainda não tem uma estrutura que permita isso. O que pode ser feito?

O Orlando Silva (ministro dos Esportes) disse que Teresina pode se transformar em um polo brasileiro de judô. Para isso, tem que conseguir massificar o esporte. Ter mais professores, ajuda do governo, projetos sociais. Estamos tentando a doação de um terreno e incentivos para construir um centro de treinamento. Já tivemos a palavra do prefeito, do governador e de alguns deputados. Estamos tentando de todos os lados. Queremos dividir Teresina em pólos, vários núcleos de treinamentos para que não fique restrito ao centro. Querendo ou não, o judô é um esporte de elite. São viagens, quimonos, estrutura... É muito orçamento. São Paulo tem a hegemonia porque tem muito projeto no interior. Aqui, só na capital. O Rio também tem problema de renovação, principalmente com o fim da equipe da Gama Filho.

- A boa forma da Sarah nas competições no ano passado e o mau desempenho dos homens mostrou a má fase que judô masculino atravessa. Por que?

O maior problema do judô masculino é a falta de renovação. É mais provável que o judô feminino ganhe medalhas por conta dessa geração Por isso está sendo feito esse trabalho.

- Depois das conquistas de 2009, até onde a Sarah Menezes pode ir?

Acho que a Sarah vai ser o maior ídolo do judô brasileiro. O Brasil tem essa necessidade de ter atletas a idolatrar. Ela está brigando por isso e já começou a mostrar.

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