terça-feira, 2 de março de 2010

Crianças de família que moram em imóvel invadido, são campeãs de Judô.

02/03/2010
Rio de Janeiro - RJ

Talento que transforma as latas em ouro puro

Medalha de ouro na categoria infanto-juvenil, ano passado, nos campeonatos abertura, carioca, estadual e brasileiro regional, prata no Brasileirão e bronze no Sul-Americano, Tainara, a mais velha, chamou a atenção do Colégio Santa Mônica, que ofereceu bolsa de estudos até ela completar o Ensino Médio. “Faltou o dinheiro da passagem até Bonsucesso, onde fica o colégio”, lamenta o pai, Eduardo Moura Nunes, 30 anos, que recusou o apoio.
As crianças Tainara, Eduarda e Pablo com as medalhas no peito | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia


Tainara nasceu na maternidade Pro Matre, na Praça Mauá, assim como os irmãos Eduarda, Pablo e Davi. Até os 6 meses de idade, viveu sob marquises do Catumbi, Rio Comprido, Estácio, Praça da Bandeira e Cidade Nova, quando então os pais invadiram o prédio abandonado do Estácio, em 1998. Há quatro anos, um incêndio obrigou a família a se mudar para o Catumbi, onde viveu por dois anos em outra ocupação irregular. “Quem dera pudesse ter um cantinho só nosso, cansei de ralar na rua e de viver nessa sujeira”, admite Eduardo, que fatura de R$ 10 a R$ 18 por dia, com a venda da sucata.

Quando não treinam de graça na Academia Equipe A, as crianças seguem a dica do pai: dão socos e pontapés no saco de pancadas improvisado, feito de pneus enfiados numa estaca de madeira, presa ao chão. “Quando estou nervoso, bato com vontade para espantar os males que atordoam a minha cabeça de sucateiro”, explica.

A possibilidade de ver a filha mais velha no tatame dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, quando Tainara terá 19 anos, faz o pai das crianças implorar por patrocínio. “Tomara que alguém se sensibilize e queira ajudar meus filhos, porque eles são verdadeiras feras no judô. O menorzinho de 4 anos, o Davi, começa a lutar este ano”, garante.

Embalada pelo entusiasmo do pai, Tainara admite que disputar as Olimpíadas no Rio será o máximo. “Sei que não será fácil chegar lá, mas prometi aos meus pais que não vou desistir, mesmo que a gente volte a morar na rua”, conclui.

O grande incentivador

Padrinho dos irmãos campeões, o paraibano Orlando Araújo chegou ao Rio sem saber ler nem escrever:

“Sei bem o que é dificuldade porque já passei fome, por isso ajudo no que posso, e vejo nessas crianças verdadeiros lutadores, como eu fui, mas exijo frequência e boas notas na escola, senão nem treina comigo. Sei a falta que o estudo faz”. Orgulhoso do projeto social da Academia Equipe A, no Rio Comprido,

Orlando é conhecido no mundo do judô. Sua academia ocupa o 4º lugar no ranking da federação. “O menorzinho do trio, o Pablo, vai ser federado esse ano e, pode apostar, vai ganhar tudo”, prevê.
Por Ricardo Albuquerque - Divulgação JUDÔinforme

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