quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Judoca cearence com 93 anos diz que começaria tudo de novo.

17/02/2010
Fortaleza - Ceará

Experiência: com 60 anos de vivência na prática do judô, o shihan Milton Moreira é admirado por professores e alunos da Academia Judô Clube Sol Nascente, associação criada há 43 anos

O criador da Academia Judô Clube Sol Nascente é o atleta mais idoso em atividade, com 93 anos festejados em jan/2010

Lúcido, bem disposto e com memória ainda afiada. Apenas os passos mais lentos traduzem o peso da idade no único judoca do Ceará que é detentor da faixa coral, que identifica o "shihan", ou seja, o mestre dos mestres.

"Se eu pudesse voltar atrás no tempo, faria tudo de novo. Não me arrependo de ter dedicado seis décadas da minha existência ao judô, primeiro como atleta e depois como treinador".

Essa firme declaração é do professor Milton Moreira no início do papo informal com o repórter na sala de recepção da Academia Judô Clube Sol Nascente (Rua Joaquim Torres, 872, bairro Joaquim Távora).

Ele deu início a nossa conversa salientando que ao contrário de muitos praticantes das artes marciais, começou a vivenciar o judô aos 33 anos, idade na qual muitos atletas já atingiram o ápice na carreira conseguindo a faixa preta e faturando títulos.

Jiu-jítsu

"Antes do início no judô eu praticava o jiu-jítsu na academia do professor Nilo Veloso, que funcionava na Avenida Duque de Caxias, exatamente na esquina com a Rua Senador Pompeu", lembrou o shihan. Com pouco tempo o aluno Milton chegou à faixa marrom e mostrou suficiente desenvoltura para ensinar, sendo promovido à função de instrutor, assumindo a academia na ausência do professor Veloso. Tudo isso ocorreu na década de 40. Já no início dos anos 50 o judô começou a ser praticado em nosso Estado e na academia do professor Veloso, que também lecionava Educação Física no Colégio Estadual Liceu do Ceará. Aluno aplicado, Milton Moreira foi então incentivado pelo mestre Nilo a trocar de modalidade. E no ano de 1966 o atleta Milton tornou-se o primeiro judoca no Estado promovido a faixa preta, com aprovação da então Federação Cearense de Pugilismo (FCP), entidade à qual o judô era afiliado, por não ter federação própria.

Detalhe: de 1937 a 1973, Milton Moreira trabalhou de alfaiate. ´Mas desisti da profissão para me dedicar ao judô´, disse o mestre

Nasce o Sol

Um ano após a conquista da faixa preta, em janeiro de 1967, o atleta Milton Moreira inaugurou a sua própria academia, a Judô Clube Sol Nascente, que primeiro funcionou em prédio alugado no centro - Rua São Paulo, entre Senador Pompeu e General Sampaio. "Mas desde 1976 essa academia mudou-se para a Rua Joaquim Torres, 872, onde as aulas são ministradas às segundas, quartas e sextas-feiras, com mensalidades de 45 reais", disse o shihan Milton.

Após a faixa preta 1º Dan, o mentor da Judô Clube Sol Nascente, deu sequência à carreira e vieram as faixas pretas 2º Dan, em 1974; quatro anos depois recebeu a faixa preta 3º Dan; em 1984 veio a preta 4º Dan; em 1989 subiu para 5º Dan; em 1995 alcançou a preta do 6º Dan e aí recebeu a coral, de shihan.

Ídolo

"As crianças, adolescentes e adultos que treinam na Judô Clube Sol Nascente não escondem a admiração pelo meu pai", comentou Francineide Moreira, um dos cinco filhos do mestre Milton. "Shihan, vem para o dojô dar aulas para nós", convidam as crianças que frequentam a academia", disse, orgulhosa, Francineide, a primeira atleta do sexo feminino a alcançar a faixa preta do judô, em 1969. Hoje, ela é faixa preta shodan (1º grau) e responde pela organização dos eventos da Academia Judô Clube Sol Nascente. Outros integrantes do clã Moreira que foram atraídos para o judô são o filho Nilton Simão Moreira, que dirige um núcleo da Sol Nascente no Crato; os netos José Marcelo Moreira Frazão, Frank Wilton Moreira, João Neto e Amilton Neto; além dos bisnetos Yago e Nathália.

Evolução

"O judô evoluiu bastante, e difere muito da época em que comecei, quando era um esporte essencialmente amador e pouco difundido no Ceará", afirmou o professor Milton Nunes Moreira, que em 2001 comandou a Federação Cearense de Judô (Fecju), entidade fundada no dia 19 de outubro de 1969.

"Mas diferente dos dias de hoje, onde o atleta enfrenta dificuldades para disputar competições principalmente fora do Estado, antigamente a Confederação Brasileira de Pugilismo (CBP) ajudava os judocas que disputavam os eventos da entidade. Por exemplo, os atletas podiam até gastar dinheiro do próprio bolso ou conseguir apoio para custear os gastos, mas tinham a garantia de que a CBP reembolsaria as despesas com passagem e hospedagem", ratificou o shihan, que comparece à Sol Nascente religiosamente às segundas, quartas e sextas para orientar os seus pupilos.

MUDANÇA RADICAL
Mestre foi alfaiate, antes de se tornar faixa preta - 1º Dan

Na década de 40 o jiu-jítsu começou a ser praticado no Ceará, mas o seu ensino era restrito. Quem desejasse aprender a lutar tinha de ser indicado por algum praticante para chegar até a academia. Geralmente os treinos eram realizados a portas fechadas, com raros visitantes.

E o senhor Milton Moreira foi então convidado pelo professor Nilo Veloso quando numa conversa demonstrou o seu interesse em praticar aquele esporte. Isso só aconteceu porque o mestre Nilo era cliente da alfaiataria de Milton, que funcionava na Rua Guilherme Rocha, 1325.

Providencial

E o ofício de alfaiate de Milton Moreira foi providencial para os lutadores de jiu-jítsu cearenses. E a explicação é bem simples. Uma das dificuldades dos seus praticantes era a roupa utilizada nos treinos, que era exportada, por isso seu preço era elevado. Mas o aluno Milton se ofereceu para reproduzir os "kimonos" em troca das mensalidades na academia do professor Nilo. "Nesse tempo os campeonatos, primeiro de jiu-jítsu, e depois os de judô, eram raros, pelas próprias dificuldades de organização", ressaltou o shihan Milton.

Inédito

Mesmo com todas as adversidades, em 1964 foi realizado o I Campeonato Misto de Judô e Jiu-Jitsu não-oficial em nosso Estado, com a participação de atletas de ambas as modalidades. E essa competição que teve a participação do judoca Milton Moreira foi realizada com êxito. "Infelizmente, não cheguei a ganhar títulos no judô", lamentou o fundador da Sol Nascente.

Destaques

Segundo o nonagenário mestre dos mestres do judô, que ainda teve tempo para alcançar o 8º Dan, "na minha época de atleta também se destacavam no judô os colegas Jurandir, José Maria, Herondino, professor Sá, Manoel Vitorino, Antônio Valdir de Almeida, Francisco dos Santos (Piçarra), João Inocêncio, João Bosco, José e Gilberto Morais", enumerou o lúcido professor. Aliás, o shihan, hoje, já não participa tão ativamente, claro, das aulas na academia. "Apenas supervisiono as atividades dos professores. Mas quando se faz necessário também vou ao dojô para corrigir esses professores", ressalvou o mestre Milton.

Homenagem

Para prestar uma justa homenagem ao seu fundador, a Academia Judô Clube Sol Nascente criou a Copa Milton Moreira de Judô. No ano passado, essa Copa, na sua décima quarta edição, foi realizada no ginásio do Sesc, local onde funciona uma das cinco unidades da Judô Clube Sol Nascente. Nessa competição atletas de várias academias lutaram pelo título nas categorias Festival, Infanto-Juvenil, Pré-Juvenil, Juvenil, Júnior, Sênior, Master, Dangai, Absoluto por Equipe e Rei do Tatame. A Copa Milton Moreira tem como tradição revelar novos valores no judô cearense. E quanto ao segredo da saudável longevidade, o shihan Milton até brincou: "Uma vez, numa entrevista no programa a Grande Jogada, do apresentador Sebastião Belmino, na TV Diário, falei que o segredo da minha longevidade era ´comer guaiamun com côco´. Mas falando sério, agora. Eu mamei até os três anos de idade, nunca fumei e nunca tomei Coca-Cola e bebo socialmente. Costumo dormir cedo e minha alimentação é bem regrada".

Perfil

Nome
Milton Nunes Moreira

Nascimento
24 de janeiro de 1917

Graduação
Faixa preta 8º Dan e recebeu a faixa coral de shihan (mestre)

Carreira
Sessenta anos como judoca, pois começou aos 33 anos

Outro esporte
Jiu-jítsu

Títulos
Como técnico, pela Academia Judô Clube Sol Nascente, foi hexacampeão sênior (71 a 77) e tricampeão juvenil (72 a 74)

Filosofia

"O judoca luta nos torneios para se aperfeiçoar na modalidade, mas não se aperfeiçoa para lutar"

Milton Moreira
Faixa preta 8º Dan no judô
Moacir Felix - Reporter - Divulgação JUDÔinforme

4 comentários:

  1. Coloquei A materia em meu blog e dei o creito a você ok Parabéns

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  2. Ao amigo Escaraveli, agradecemos poder estar contribuindo com a divulgação do Judô Brasileiro, e obrigado pela sua visão profissional em mencionar nossos créditos, muito importante para mim como Jornalista. Prof. Rocha

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  3. meu mestre miltom moreira,

    durante dois anos tive o prazer de lecionar na sua academia, e aprender o verdadeiro judo nas aulas reservadas com ele.
    um dos mais velhos judokas em atividade....

    vida longa ao shihan milton!

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