Rio de Janeiro - RJ
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Sarah Menezes
Muitas vezes observamos lutadores surpreendentes, considerados muito talentosos ou mesmo superdotados. Característica básica: aprendem facilmente as técnicas e conseguem executá-las eficazmente. Existem alguns atletas neste olímpo, muito raros que, mesmo sem se dedicar como os demais, executam as técnicas com perfeição.
Contudo, na maioria das vezes, até os mais talentosos somente atingem Maestria Desportiva (excelência técnico-tática e bons resultados em competições) depois de muita prática. Como assim muita prática? Cientistas do Treinamento Desportivo apontam que, no Boxe, por exemplo, acima de 3.500 horas de prática ou 2.000 sessões de treino (nivel internacional). Em outras modalidades presentes nos Jogos Olímpicos como o Taekwondo, Judô e Luta Olímpica esse número sobe para mais de 4.000 horas de prática ou 2.800 sessões de treino.
Além da melhoria técnico-tática, a dedicação pode superar (ou igualar) o talento natural em outro quesito: psicológico. Quanto mais treinado e preparado, o atleta atinge um estado denominado de “acomodação psicológica”. Nesse estado, em função de confiar nos árduos treinamentos que realizou (quando bem planejados), o lutador se encontra (e se acha) em estado psicológico adequado para enfrentar todas as exigências físicas e psicológicas naturais dos esportes de combate.
Randy Borum, psicólogo de atletas de Boxe e MMA nos Estados Unidos, é ainda mais “caxias” nesse quesito. Em artigo publicado em 2009, baseado em estudos realizados por colegas, afirmou categoricamente: para se atingir excelência técnica máxima em qualquer coisa - de jogar xadrez, tocar violino, realizar cirurgias a lutar -, o ideal é dedicar-se em média 20 horas por semana durante dez anos, para atingir um total de 10.000 horas de prática. Ele reforçou seu ponto de vista com a publicação recente de um livro nos Estados Unidos, no qual o autor se baseou em diversos estudos e acredita que mais importante do que ter talento é se dedicar a aprender e realizar eficientemente a tarefa. O título original do livro é “Talent is Overread” (em Português: “Talento é superestimado”), do autor Geoff Colvin.
Danielli Yuri
Vale uma ressalva: antes de você decidir acampar em sua academia só para acumular essas horas mais rapidamente, deve ter a consciência de que a mente leva um tempo para reter a técnica e mantê-la.
O ideal é que a prática seja deliberada, ou seja, aquela em que mesmo o atleta tendo participado das aulas em grupo continue a se aprimorar em outros horários, mas sem se exceder. Além disso, o treino tem foco específico e inteligente. Exemplo prático no MMA: em vez de o atleta trabalhar chutes aleatórios no saco pesado por vinte minutos, focar o trabalho para melhorar um chute lateral no qual é deficiente, pelos mesmos vinte minutos, marcando mentalmente um ponto no saco para acertar, melhorando sua coordenação e mantendo postura corporal adequada. Fará o mesmo trabalho duro comparado à primeira opção (chutes aleatórios), só que, além do tempo e esforço, exigirá foco.
Um fator importante a ser considerado nesse processo todo é: será que todos devem buscar as tais 10.000 horas? Na minha opinião, não. Se você é um competidor ou simplesmente decide buscar excelência técnico-tática nas lutas, existem algumas dicas que ajudarão a ter sucesso em período mais curto. São elas:
1) Verifique consigo as hipóteses sobre como o sucesso ocorre - no seu caso - em situação de sparring ou em competições. Isso ajuda a ter auto-consciência quando você percebe que o que faz nos treinos, muitas vezes é mais importante do que o que tem naturalmente (”talento”). Lutadores e indivíduos, de modo geral, que dão prioridade ao talento tendem a ter atitude fixa. Eles acreditam que seu sucesso vem de uma característica fixa inata que não pode ser adquirida ou melhorada. Acredito que o ideal é ter a mentalidade de que o talento natural é apenas um ponto de partida e não um ponto final e, assim, a capacidade pode ser melhorada por intermédio de compromisso e trabalho duro;
2) O atleta deve buscar informações sobre sua evolução (feedback) e utilizá-las. Pedir essas informações para instrutores, treinadores e parceiros de treino responsáveis. Não basta perguntar: “O que eu fiz de errado?”, tem de questionar: “Quais são as outras maneiras de fazer corretamente?”. Uma das melhores ferramentas é a visualização de vídeos de suas lutas e, até mesmo, dos adversários. Até atletas que já estão no nível de elite aprendem coisas novas e valiosas sobre o seu jogo, quando se observam. Melhor ainda se contar com a observação de outros da equipe sobre os movimentos realizados e filmados. Poderá formular uma lista do que precisa ser desenvolvido ou aprimorado como postura, velocidade, força, etc. O ideal é assistir diversas vezes e, para facilitar, atribuir nota de 0 a 10 para cada valência física e/ou técnica específica, relacionando ao seu desempenho. Se ver algo que precisa corrigir, tente por um momento fixar a imagem em sua mente de como ficaria se fizesse de modo correto. Escolha algo para trabalhar em uma próxima vez, e compare utilizando as filmagens para ver se está mais perto de atingir aonde você quer estar;
3) Tente ser sistemático. Para tornar o trabalho mais deliberado, você não pode apenas ter um plano para colocar em um determinado número de horas. Deve definir e monitorar metas específicas para cada sessão de exercícios e prática. Objetivos ajudarão na motivação, foco, e orientarão a capacidade de aprender e melhorar. Ao estabelecer metas, pense em como determinada prática se encaixa dentro do seu maior objetivo em longo prazo como ganhar o cinturão do UFC ou ser campeão mundial de Jiu-Jitsu, por exemplo. Pergunte a si mesmo: “como posso organizar minhas metas de curto prazo para me aproximar do que eu finalmente desejo alcançar?” Faça um plano e siga adiante;
4) Persistência. A prática deliberada - quando feita corretamente - exige muito esforço e muitas vezes não é divertida. Por si, provavelmente, não fornecerá muita satisfação e motivação. É aí que entram as metas e o feedback dos outros. Você pode ter ao menos um pouco de satisfação de ter alcançado seu objetivo para essa sessão ou ver sua melhoria ao analisar as filmagens iniciais. Aprender a persistir, mesmo quando não é divertido, é um dos benefícios da prática deliberada.
Por Leandro Paiva - Divulgação JUDÔinforme
Tenho certeza que ambos tem seu mérito. A curto prazo, talento trará mais resultados e motivação, a longo prazo, só com trabalho duro se tem resultado.
ResponderExcluirComo professor de Karate, sempre vi os ‘talentos promissores’ desistirem quando saia da zona de conforto que é lutar com não talentosos, mas que trabalham duro.
Talento ajuda, mas só a dedicação mantêm.